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"PARA A LAURA - Histórias de uma Gata"





Cap. 3: A Kitty Kitty

Capitulo 3: A Kitty Kitty

A Kitty Kitty foi encontrada pelo Pedrinho, o irmão da minha dona, muito pequenina, ainda, com cerca de apenas um mês de vida, debaixo de uma árvore, nos jardins do Colégio onde estudava, em Cascais, estávamos então, em Junho de 1997, ano chinês do Búfalo. Logo aí, foi engraçado, pois para socorrer uma tão pequena gatinha foram necessárias várias pessoas. Devido ao medo que tinha, a Kitty, enroscava-se de tal forma junto à palmeira que lhe dera abrigo que os seus salvadores se viram e desejaram para a conseguir retirar dali sem a magoar e afugentar ainda mais. Foi um Deus nos acuda, mas ao fim de muitas voltas e reviravoltas lá conseguiram pegar na Kitty Kitty e levarem-na para casa, onde a alimentaram, acarinharam e protegeram. Até, aqui, tudo parecia normal. A Kitty Kitty, vivia então, em casa, da mãe da minha dona, a nossa salvadora como bem te deves lembrar, só que, devido a certos problemas que a afligiam, na altura, e que agora aqui para o caso não interessam nada pediu ajuda à minha dona para tomar conta da pequena gatita, pois além do mais a gatinha tinha muita diarreia, que aliás parece ser um problema que aflige muito os gatinhos pequenos quando retirados da rua. Para além de virem, quase todos, desnutridos, logo que começam a ser bem alimentados sofrem de tal problema. Posto isto, a minha dona, troce a Kitty para casa. Na altura, ela só tinha os dois machos, as manas e o Choné. Este último tinha sido encontrado na rua, moribundo, pois devido a atropelamento tinha ficado em coma. Teve um traumatismo craniano e durante dois meses sofreu tratamentos médicos e foi só, por essa altura, que conseguiu meter a língua para dentro da boca, pois tinha sido encontrado de língua de fora e assim tinha permanecido durante todo esse tempo. Eu, não sei como ele se conseguiu aguentar. Pelo seu estado de fraqueza não conseguia manter a temperatura normal do corpo, e por isso tinha que ser aquecido artificialmente com cobertores e botijas de água quente. Também a alimentação tinha que ser feita através de conta gotas. Aos poucos e poucos o Choné foi recuperando do acidente e começando a deixar vislumbrar o bonito gatinho que havia sido. Continuava no entanto, com um ar um pouco choné. Alguém disse que ele parecia o gato da “Alice no país das maravilhas”. Na verdade, com o decorrer do tempo, o Choné recuperou do acidente, não haja dúvida, mas ficou sempre com um leve, digamos que, um certo entorpecimento nos gestos que lhe causava um ar muito pacato e engraçado. Embora o Choné até já soubesse brincar. Não te rias Laura. Mas a verdade é que o Choné teve que reaprender quase tudo na vida: reaprender a comer, a lavar-se, a fazer as suas necessidades e mesmo, a brincar. A Picoly referiu-me ter ouvido a dona, comentar, muitas vezes, da sua alegria quando ao fim, de uns meses de tratamento, viu o Choné fazer o primeiro gesto de tentar levar uma pata à boca para a lavar. Parece que aquilo era um grande progresso. Uma coisa que nós fazemos a qualquer instante sem dificuldade nenhuma. Ele, um gatinho já adulto, teve que reaprender a custo de muitas sessões de fisioterapia que a dona insistia em lhe fazer. Quando a Kitty chegou, lá a casa, as manas entraram numa crise de ciúmes que metia dó. Acho que só lhes faltava uivar, pois ficaram completamente indignadas com a possibilidade de a dona dar atenção a outro gato que não elas. - Refira-se que aquando da chegada do Choné, nenhuma se atreveu a proclamar miado que fosse. Eu, própria já ouvi muitas vezes a minha dona referir esse episódio em que ela logo aproveita para aclamar em nossa defesa dizendo que: “os animais são maravilhosos pois são capazes de grande altruísmo para com os que sofrem”. Coisa que segundo ela, muitas das vezes, os “Humanos” deixam muito a desejar. E, não hajam dúvidas, as manas tinham-se apercebido da fragilidade e estado precário em que o pobre animal se encontrava. Mas em relação à nossa nova amiga o caso, já mudava de figura. Por isso, embora não lhe fizessem mal, nem a dona o permitiria, claro está, não lhe prestavam a menor atenção, tentavam mesmo ignorá-la. Assim, sendo, só restava à pobre Kitty brincar com o Choné. Foi este, na realidade o seu grande companheiro e instrutor de técnicas de combate. Pois sendo rapaz, era esta a sua especialidade. A dona diz que era muito engraçado vê-los a brincar. A Kitty Kitty era muito boa gatinha, é do signo do Touro, tal como a nossa dona e a Micas. E, como tal, não incomodava ninguém. Era também muito independente. Muito cedo aprendeu a comer a sua ração, ir ao seu pote e tratar da sua toalete. Brincar, brincava com qualquer um não se importando se lhe rosnavam, fungavam ou a magoavam. Ela queria mesmo era brincar. Então, imagina, uma gatinha preta, muito pequena aos saltos e um gato grande, tipo pesos pesados, lento e ... um pouco choné a tentar apanhá-la. A dona dizia ser bom para ambos. Para ele funcionava como que se de uma terapia se tratasse, digamos mesmo, que eram as suas sessões de fisioterapia e para a Kitty era um amigo. Mas, Laura, querida, enquanto isto decorria algo de muito terrível se estava a passar que a todos tinha passado despercebido. A Kitty, vinha doente, e com uma doença altamente contagiosa a todos os outros gatos e também aos seres humanos. Quer isto dizer que todos os gatinhos da casa ficaram contaminados, incluindo ... a nossa dona! No entanto a cena não deixa de ser engraçada. Pois, só se aperceberam de tudo isto, depois de já todos na família terem bolinhas no corpo a que uns médicos tinham atribuído alergia alimentar e outros, outra blasfémia, qualquer, até que chegado o dia em que a dona resolvida a levar a Kitty ao veterinário para uma consulta de rotina tudo se esclarece. Sim, porque nos humanos era de fácil observação as ditas bolinhas na pele, mas na Kitty, ninguém se tinha apercebido de nada a não ser que ela parecia ter usado molas nas pontas das orelhas que lhe teriam deixado marcas. Mas como tinha sido encontrada abandonada, e toda a gente sabe das maldades e atrocidades a que alguns animais estão sujeitos na rua, e a Kitty, em virtude de ser muito nova continuar a comer e a brincar como se de nada se tratasse ninguém tinha desconfiado das suas maleitas. Até que, como te dizia, ao chegar ao veterinário, encontrando-se a nossa dona na sala de espera do consultório, com a Kitty Kitty nos braços, ouviu para grande espanto seu o senhor doutor veterinário comentar com a filha, (na altura, estudante de veterinária) que aquilo que se lhes apresentava à frente era um caso típico de “Tinha” uma micose que se caracteriza pelo aparecimento de umas borbulhas na pele que despertam imensa comichão e que vão alastrando sempre de forma arredondada, provocando febre e mal estar geral e que - estava a gata e a dona completamente infectadas. Foi obra do inimigo. A dona ia caindo redonda no meio do consultório. O tratamento para além de antibióticos, loções e pomadas para a Kitty, restantes gatos e dona, compreendia uma desinfestação em grande de toda a casa. Segundo dizia o senhor doutor a limpeza e higiene eram factores importantíssimos para a cura. O mesmo não será preciso dizer-te de que foi igualmente feito em casa da nossa salvadora pois bastaram os poucos dias que a Kitty ali passara para ter contaminado, também, toda a casa e todos os que lá viviam. Uma coisa a dona aprendeu, é aborrecido, dá trabalho, mas não mata é preciso é ser bem tratada e seguir os conselhos do veterinário. Mas, as doenças da Kitty não ficaram por aqui. Curada da “Tinha”, volta e meia, quando a dona chegava a casa tinha um olho virado dos avessos, tal era o inchaço que apresentava. Várias vezes a dona foi de escantilhão para o veterinário onde lhe receitavam novos colírios e no dia seguinte já estava tudo bem. Outra lição a dona aprendeu por ela mesma a Kitty Kitty tem os olhos um pouco saídos, como aliás muitas pessoas, e talvez por isso nas brincadeiras esteja mais sujeita a magoar-se. Ainda hoje, volta e meia, lá está a Kitty com um olho à Belenenses. Alturas ouve em que a Kitty alternava o olho inchado com uma outra maleita, que era inchar-lhe uma pata. Pois muito mais assustada, ficou a nossa dona quando começou a reparar que a Kitty, andava a coxear de uma pata. A dona viu e reviu e de novo lá foram para o veterinário. E aqui o problema fiava mais fino. Foi-lhe então diagnosticado por um jovem estagiário uma raríssima doença que consistia em parte do corpo renunciar a qualquer outra parte do seu próprio corpo, tal como pode acontecer com a rejeição de órgãos em caso de transplante, embora, aqui, não fosse esse o caso. Estranhíssimo, mas foi o que lhe diagnosticaram. Colocou pomadas, foi inclusive fotografada de vários ângulos e a pobre pata da Kitty Kitty lá continuava ora, uns dias, um pouco melhor ora na mesma. Entretanto as unhas tinham-se-lhe cravado nas almofadinhas. É que a donzela tem umas unhas tipo bicos de papagaio. Ora a partir dai a dona começou a ter muito mais cuidado com as unhas dela. Por sorte parece que tudo ficou por isso mesmo e nada mais se tratava senão de unhas encravadas que provocavam feridas e inchaço nas patinhas. Mais uma lição a dona aprendeu. A verificar as unhas de nós todas. Agora, não passa mais do que uma semana, sem que as nossas patitas não sejam todas examinadas e cortadas todas as pontas das unhas para que ninguém mais se possa magoar. Mas querida irmã não penses que as peripécias com a nossa amiga Kitty Kitty acabaram por aqui. Mais ou menos resolvidas todas estas moléstias, eis que, a dona se começou a aperceber que a pobre, pois é este o termo correcto, Laura minha irmã, tinha o fato roto. E tão roto começou a ficar, que alturas, houve, em que a dona não a podia deixar aproximar-se das janelas com medo de represálias por parte de vizinhas mais conservadoras, pois ao fim de uns tempos de andar de colotes, passou a uma miserável tanga até que, por fim, a Kitty andava nua. Uns penachos de pelos pretos na cabeça, alguns bigodes e pouco mais. Há, a cauda essa nunca perdeu o pelo. Laura, não troces, isto é verídico! E tu, tão bem, como eu, sabes, como os gatos ficam mortalmente ofendidos quando alguém se ri deles. Pior, ainda, é que isto costumava acontecer sempre na altura do Inverno, quando ela mais precisava de roupa quente. Imagina só. Bem, claro está que a Kitty fez todos os testes e exames que se podiam fazer, fez tratamentos hormonais e nada resolvia a questão. Pensou-se que pudesse ser alergia às pulgas, mas também não podia ser pois Graças a Deus não temos cá disso em casa. Perigoso não era e muito menos pegadiço pois caso contrário já estaríamos todas carecas. Porém, a nossa dona apercebeu-se por experiência própria com outros gatos de rua de que muitos gatinhos pretos são dados a esses problemas de pele. Será alguma alergia!? Não sabemos. De Verão a Kitty Kitty ficava linda e felpuda com um lindo manto sedoso de Inverno eram aquelas indecências. Por incrível, que possa parecer, este ano, a Kitty conseguiu aguentar todo o Inverno sem se despir. A não ser as orelhas que ficaram um pouco russas e as meias que teimou em tirar. Pelo menos até agora. Vamos ver o que acontece. Mana eu só de pensar até já me coço toda. Que aflição, já pensaste bem. E tu e o mano? Também são todos pretos. Graças a Deus que nunca tivemos esse tipo de problemas. Lagarto, lagarto, lagarto. Pelo sim, pelo não vamos fazer um despiste a alguma componente alimentar que esteja na razão do problema.