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"PARA A LAURA - Histórias de uma Gata"





Cap. 4: A Micas

Capitulo 4: A Micas

 

Minha Deusa, Anjo branco, Tigresa, são tudo termos que a dona utiliza quando se quer referir à Micas. Já a cheguei a ouvir dizer que ela foi um anjo branco que desceu à terra par alegrar a vida dos humanos,neste caso a da minha dona. Grande e comprida como um comboio, toda branquinha como o açúcar mais refinado que tu possas imaginar, com uns grandes e belos olhos amarelos, amendoados e a contrastar com esta brancura nariz, boca, orelhas e almofadinhas das patas de um rosa do mais puro. É, ou não, a imagem de um anjo? Na realidade a Micas é muito bonita. De porte altivo e majestoso andar, tudo nela e lânguido e sensual não restam dúvidas de que aqui a conjunção astrologica Touro/Tigre formaram um extasie de beleza. Há dias, também, em que a dona a compara a um lindo patinho branco. Acho que é outra das suas paixões. Diz que se pudesse voltava a ter patos, pois nunca se esquece de um, em especial, que teve nos tempos em que viveu, no Algarve, e em que o criou de pequeno. Na realidade eram um casal de patinhos mas a menina não sobreviveu só ficando o rapaz que se tornou num lindo e grande patarrão todo branco com um lindo bico cor de laranja. Parece que o Jarbas, pois era esse o seu nome, lhe conhecia a voz e quando ela chegava da escola e ele a ouvia a conversar com a nossa salvadora, não era de meias medidas e asas para quê, o dito cujo, mandava-se da varanda e só aterrava lá em baixo ao pé da sua amiga, ou seja da minha dona. A dona costuma dizer que os gatos e os patos são animais maravilhosos, pois são ambos muito asseados e bons amigos dos seus donos. Em Montargil, na quinta onde atracavam o barco, quando chegavam das praias da Barragem havia, também, uma gansa que ao ver a nossa dona ao longe abria as asas e voava em sua direcção numa grande alegria, para não falar no grasnar em altos berros que dava quando, à noite, ouvia o barulho do jipe a chegar à quinta. Já estou é a afastar-me muito das minhas companheiras, é que Laura querida se te vou contar sobre todos os animais de que ouço a nossa dona falar e sobre as histórias que a Picoly conta nunca mais paro. Ela é muito bem relacionada com diversos animais e de variadíssimas espécies, também já teve um bode amigo. Vou-te só contar mais uma história de um gatinho que a dona encontrou atropelado e em muito mau estado. 2003, dia 9 de Março, ia a nossa dona para casa de sua mãe e nossa salvadora, que fazia anos nesse dia, é do seu signo dos peixes, quando a caminho, no meio da estrada viu um gato às voltas, abrandou, mas logo se apercebeu que o caso era muito complicado, pois ele rodava sobre si próprio e isso quanto a ela queria dizer que ele tinha um traumatismo craniano, pois já em tempos lhe tinha sucedido uma situação parecida quando encontrou o Choné. Parou, bateu a uma porta ali em frente e aparece-lhe um sujeito de idade a dizer que não sabia de quem era o gato e que até lhe parecia que ele estivesse muito bem pois à tarde, tinha-o visto, ali à porta, bem pior, ou seja quase morto -dizia ele. Escusado será dizer que a nossa dona pegou de imediato no gato que entrara entretanto em estado de choque continuando a rodopiar sobre ele mesmo e meteu-o na transportadora para o levar para o veterinário. Lá se foi o aniversário da nossa salvadora. Claro está que o gatinho estava muito mal, os veterinários fizeram-lhe logo o que puderam e depois era preciso continuar a fazer os tratamentos. Ora não podendo abandonar o bicharoco colocava-se, agora um novo problema visto ele já ser um gato adulto e portanto não puder ficar sozinho em casa, com cinco gatas visto não haver portas. Esta é a parte cómica da situação é que a nossa dona precisava de o levar todos os dias ao veterinário para fazer os tratamentos, e também não tinha onde o deixar, então o pobre gato, andou uma semana, a viver no carro dela, dentro da transportadora. Todos os dias antes de ir trabalhar a dona administrava-lhe os medicamentos, limpava a transportadora e lá ia para o trabalho com o gato. Só que tinha que deixar as janelas um pouco abertas para ele respirar e por outro lado tinha medo que alguém o visse lá e lhe fizesse mal, então andava a parar o carro às portas das pessoas conhecidas a pedir-lhes para darem um “olhinho” ao carro para que ninguém o importunasse. Entretanto, ele foi melhorando e a nossa dona, à hora do almoço, parava o carro para lhe dar de comer e fazer as limpezas. À tarde quando acabava o trabalho ia com ele para o veterinário. Claro está, que quando saia do veterinário já era muito tarde, e não eram horas para ir bater as portas à procura dos seus donos. O gatinho era um lindo siamês o que lhe fazia pensar que tivesse dono só que daqueles que deixam os gatinhos andar na rua. Passou exactamente uma semana, e quando chegou o sábado o gatinho já tinha recuperado. O caso não tinha sido nem de longe nem de perto como o que tinha acontecido com o Choné. Aí, a nossa dona resolveu ir à procura dos seus donos. E assim fez. Fez-se à estrada e conforme ia chegando ao local onde provavelmente se teria dado o acidente e onde encontrara o gatinho começou a pensar em bater aqui e aculi, mas algo lhe fazia continuar. Passou à porta do homem com quem tinha falado e continuou, pois não valeria a pena lá voltar. Parou então o carro mais à frente entrou numa mercearia que estava lotada de gente, aguardou que alguém lhe desse atenção, e nesse momento, entrevê: - que os seus olhos se cruzam com os de uma linda gatinha cinzenta que se encontra deitada a um canto e que nesse mesmo instante se levanta, passa por toda aquela multidão e a vem cumprimentar. Aquilo era um sinal! A minha dona assim o entendeu. Naquele instante em que se levanta depois de cumprimentar a gatinha, a senhora que estava ao balcão desvia os olhos dos outros clientes e pergunta-lhe o que deseja, ao que depois da nossa dona lhe responder ela diz-lhe que conhecia muito bem o gatinho em questão, muitas vezes, mesmo, tinha ali estado na mercearia. Logo lhe indicaram a casa dos seus donos, que para seu grande espanto e alegria a receberam de braços abertos a ela e ao gatinho. Parece que naquela casa todos choravam, pai, mãe, filho e até a avó pelo seu Pintas, era assim que se chamava o nosso amigo. Pagaram-lhe tudo o que tinha gasto no veterinário e a nossa dona só lhes pediu para não o voltarem a deixar andar sozinho na rua porque era um grande perigo. Segundo a dona só quem tem ou já teve um gato siamês pode compreender tal reacção pois não há a menor duvida, ela que o diga, que já teve vários, que aquelas criaturas cremes de extremidades escuras e miados roucos são deveras o máximo. E de uma dedicação aos donos quase extrema. Conto-te este episódio porque na altura em que a Picoly mo contou sensibilizou-me muito o facto da nossa dona ter sido instrumento de ajuda para aquele gatinho e aquelas pessoas. Talvez por isso, agora, quando eu me perdi o Universo a tenha reembolsado enviando-nos a minha salvadora nº 2. Pelo que a dona soube o gatinho continuou a melhorar embora tivesse sido operado ao maxilar que estava partido devido ao acidente. Voltemos ao nosso anjo branco: A Micas foi trazida do veterinário, pois numa das idas ao doutor com a Kitty Kitty, a dona voltou, não com uma, mas com duas gatas. Estávamos em Agosto de 1998, ano chinês do Tigre. Ela tinha sido abandonada à porta da clínica e a quando de mais uma das consultas da Kitty Kitty a Micas, que estava dentro de uma jaula, atrás da marquesa em que a Kitty estava a ser observada, fazia jus aos poucos meses que tinha, fazendo uma data de traquinices dentro da gaiola e lançando umas compridas patas brancas por fora das grades. Claro está, que juntando a tudo isto, uns quantos apelos por parte dos veterinários e pessoal auxiliar no sentido de a pobre gata não ter dono e ser por isso necessário adopta-la, a nossa dona, não resistiu aos encantos de tal beldade e lá veio com mais uma. Também no feitio a Micas é impecável, se não fosse ser tão medricas seria a próxima candidata a Chefe. Mas o medo impedia de vir a reinar. Na primeira aproximação com os da casa é de se impor para logo em seguida dar em retirada ao mais pequeno barulho que surja. Com os de fora nem sequer se deixa ver. É muito supersticiosa. A Micas é de todas nós a que tem uma maior capacidade de vocalização chega mesmo a trocar grandes conversas com a nossa dona só é pena é falar quase sempre pela negativa ou seja: começa sempre as frases por nhãoooooooo, nhãooooo. Mas, diz a dona, que eu também já me prenuncio muito bem, para a minha idade, com uma prenuncia muito definida. A Micas tem deveras uma história muito engraçada, da qual ela não gosta nada que se fale, aquando da sua chegada cá a esta casa em que vivemos agora, vou-te contar: Quando a dona mudou tinha já tudo pronto na casa nova para que as suas gatinhas ao chegar não tivessem que confrontar-se com grandes alvoroços. Pois como conhecedora de gatos, sabia bem, que nós detestamos mudanças e agitação. Fomos todas transportadas ao mesmo tempo para que nenhuma tivesse que ficar sozinha, na casa antiga, o que poderia ser traumático. Ora ao chegarem à casa nova, eu ainda não estava cá, mas segundo a Picoly me conta todas as gatinhas tiveram reacções diferentes umas das outras, mas todas se foram adaptando. A Micas é que ficou tão assustada e nervosa que não parecia a mesma gata. Foi como que se de uma transfiguração se tratasse. Escondeu-se no andar de cima e rosnava a tudo e a todos ameaçando mesmo atirar-se a fosse o que fosse, incluindo a dona. Farta de saber que os gatos iriam estranhar a mudança a dona diz nunca ter pensado ser possível tal reacção. Na realidade a pobre Micas estava em pânico. Mas o pior é que queria morder a todos. A dona conta que por vezes aproximava-se dela, muito calmamente, falando baixinho para que ela sentisse segurança e que estava tudo bem, mas tão depressa, amigavelmente, se roçava nela como no instante seguinte lhe rosnava e simulava atacar. Por alguns momentos, para seu bem chegou mesmo a ter que ficar fechada dentro da transportadora para que sossegasse e se fosse acalmando. Mas o pior não foi isso. È que a pobre Micas com todo o terror em que estava chegou mesmo a adoecer ficando cheia de diarreia e sendo atacada por uma crise de ácaros nos ouvidos. Só com o tempo e muito carinho é que ela se habituou à casa nova. E hoje, passados três anos, diz que está muito bem aqui em casa e nem sequer quer ouvir falar em mudanças. Acho que se tivesse que mudar, novamente, ia ser outra grande tourada. Ou não seja ela uma bela exemplar do signo do touro e como signo fixo que é avessa às mudanças. Mas, já agora aproveito, também, para te contar a reacção da Kitty Kitty, em relação a esta mudança, que foi deveras engraçada. Passo a contar: A Kitty, tal como as outras gatinhas, embora não tenha ficado contente de todo, não apresentava sinal de stress como a Micas e assim, sendo, a dona não se preocupou de mais com ela. Pois ao fim de pouco tempo de estar em casa já andava no andar de cima, com um ar muito pouco afectado. No dia seguinte a dona apercebeu-se que um dos gatinhos tinha feito um chichi, muito discretamente, num canto do quarto. Claro está, que perante o facto da recente mudança, a dona não deu muito significado ao facto e não se preocupou mais como o assunto. Também, para ajudar a camuflar o caso, mas inconscientemente a dona por brincadeira, ao descer as escadas, que como já te referi são muito íngremes, levava algumas delas ao colo enquanto descia. A Kitty Kitty já tinha sido vista, depois de comer, brincar e ir ao pote, a subir as escadas toda contente, a correr pelas suas próprias patas para o andar de cima. No dia seguinte, a nossa dona ao chegar a casa, à noite, reparou que a Kitty Kitty emitia uns sons muito estranhos, uns miados muito queixosos e chorosos que ela estranhou. A dona subiu ao pé dela e brincou com ela verificando que estava tudo bem. E mais uma vez ao descer as escadas por brincadeira com a sua gatinha carregou-a ao colo. Mais uma vez a Kitty, esteve no andar de baixo, comeu, foi ao pote, brincou e subiu as escadas a correr como se aquilo fosse a coisa mais natural de se fazer. Pois é Laura, só no dia seguinte quando a dona ao voltar do trabalho, e ao ouvir ao fim de algum tempo de estar em casa, de novo, os tais miados um pouco estranhos é que ela se apercebeu que a Kitty Kitty, tinha medo de descer a escada sozinha. Ela ficava ao cimo da escada a tentar descer mas ao olhar para baixo, tinha medo e não descia. Raciocinando isso, é que a dona se apercebeu do problema que a Kitty se vinha a deparar, já a alguns dias. E então, em vez de a levar ao colo amparando-a por baixo da barriga mas deixando-a caminhar pelas suas próprias patinhas ensinou-lhe a descer as escadas. Os primeiros degraus foram descidos, meio a medo, a tentar voltar para trás, os últimos já foram descidos a correr com o ar de vitória estampado no focinho de quem conseguiu ultrapassar um obstáculo. Depois disso a Kitty, divertiu-se bastante durante um certo tempo a subir e a descer as escadas, várias vezes, pelas suas quatro patas.