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"PARA A LAURA - Histórias de uma Gata"





Cap. 7: Os 4 Gatinhos

Capitulo 7: Os 4 gatinhos

2004, Julho, dia 17, Sábado de manhã, ano Chinês do Macaco. Talvez o dia mais quente do ano e um dos dias mais tristes na vida da nossa dona. A Chiquita tinha falecido na véspera e era necessário tratar dos seus restos mortais o que deixava a nossa dona sem saber o que fazer. Pois tinha-se decidido crema-la e largar as suas cinzas ao vento no jardim em que ela mais gostava de brincar. Era essa a única maneira digna, se é que existe alguma dignidade num enterro, de fazer o que tinha que ser feito com a sua querida cadela. Pois toda ela lhe lembrava liberdade. E a ideia de enterra-la estava fora de questão, mas à última da hora constatou-se que não era tão fácil crema-la e muito menos ter acesso às cinzas para depois as poder devolver ao vento, como era sua ideia. E perante o dia de grande calor que se avizinhava a dona decidiu-se por rumar para a serra de Sintra para lá fazer as exéquias da sua grande amiga. É aqui que começa a nossa história, Laura, mal nós sabíamos, mal a nossa dona sabia, mal a pobre Chiquita sabia. Talvez só este Universo maravilhoso em que vivemos soubesse! Lembras-te da maneira que a dona encontrou a Chiquita? Tudo tem uma razão de ser, de acontecer e um porquê! Será? Se é, ou não, eu não sei, mas pelo menos é a única maneira de as coisas fazerem sentido. Raciocina comigo: A Chiquita aparece na vida da nossa dona da maneira que já te contei, conseguindo resistir aos danos causados pelo acidente, que foram muitos e a vários outros problemas e, no entanto, passados três anos, sucumbe vítima de larvas de mosca (depois da mosca depositar os ovos no pelo do animal as larvas entram dentro da pele) que a leva em pouco mais de uma semana apesar de todos os esforços dos médicos que a acompanharam. A dona é a primeira a assumir, que ainda por cima, nessa altura, estava cheia de trabalho o que não lhe permitia poder dedicar-se de corpo e alma à sua cadela. A mesma que durante os últimos tempos tinha sido alvo de todas as suas atenções. Mas por ironia do destino, quando a Chiquita mais precisava da sua ajuda, a dona estava sem meios para a ajudar. A Chiquita morre e...o resto da história, esse, já tu a conheces, tão bem, como eu:

Quatro, lindos e inocentes gatos brutalmente abandonados à sua sorte.

Serra de Sintra, - Boa manos mais uma árvore ali para saltarmos.

– E àquela mano branco? Aposto em como, ali, não consegues tu chegar.

– Isso não vale, pregar rasteiras!

– Se, a mana preta, não se tivesse atravessado à minha frente tinha lá chegado muito antes do que tu. - Mas que calor imenso! Tenho sede!

- E eu já trincava alguma coisa. Pensando bem, há quantos dias é que estamos aqui?

-Não faço a menor ideia. Mas vê-se logo que és uma fracota duma fêmea, vem mas é brincar. Alguma vez tiveste tanto espaço à tua volta só para tu brincares?

- Não, nunca tinha tido, mas tinha boa comida, e água fresquinha.

- Por favor não falem em água que eu estou a sentir-me mal. Para mais, nós os gatos brancos, somos muito mais sensíveis do que vocês. - Ai, ai, ai, começa a mariquice.

- Não é mariquice estou a morrer de sede. A minha pele é muito mais sensível ao calor e ao sol do que a vossa, que são pretos. Vocês é que são uma cambada de inconscientes e não pensam na situação real que estamos a viver. È como a mana preta, dizia, há pouco:

- Dantes podíamos estar confinados dentro de uma casa mas tínhamos o que comer e beber. -

E eu não quero passar cá a noite. Tenho saudades da nossa mãe. Que será feito dela? Tenho medo, manos! - Bem, juntem-se todos e vamos ficar unidos! O que acontecer a um acontecerá a todos. -

E não passa aqui ninguém!? Se ao menos soubesse-mos caçar. Bem que a mãe nos estava sempre a tentar ensinar. Mas, nunca foi preciso. Havia sempre comida! E agora, o que vamos fazer? -

Ouviram, passou um carro para cima. Isso quer dizer que traz humanos lá dentro. Pode ser que nos ajudem.

- Fiquem bem quietos e juntos, aí, vocês os três, que eu vou à procura de ajuda. - Não vale a pena, mano preto, os humanos continuaram viagem e não pararam.

- Mas olhem que não fosse a falta de condições até que gostaria de brincar aqui mais um bocado. Isto é muito bonito.

- Mana, pretinha, vem para aqui para ao pé de nós, não ouviste o que disse o mano preto. - Vou já. Olhem, olhem, vem lá o mesmo carro agora para baixo, parece que está a dirigir-se para aqui. - É o que eu tinha visto passar a bocado para cima. Vamos lá?

- Miauuuuu! - O que foi agora?

- Vocês já olharam bem para vocês os três?

- Hã!?...

- O quê que temos, nós os três?

- Qual é o problema agora? Vêm lá humanos e estamos aqui a discutir, a olhar uns para os outros, quando precisamos é de ajuda.

- Não é isso, cambada de gatos pretos ignorantes.

- Hei, olha lá o baixo nível. Há certos humanos que têm superstição em relação aos gatos pretos, dizem que dão azar. Estão a perceber, agora!?

- Sim, estamos. Embora isso não faça o menor sentido qualquer gato é sempre portador de boa sorte e o preto é até uma cor bem discreta mas e então, o quê que sugeres, ó branquela?

- Eu vou lá travar conversa com eles e logo vejo se vale a pena vocês aparecerem ou não. Mas por favor aguardem o meu sinal, não façam nada até lá, ok?

- Sim, mano branco! Vai lá rápido. Que nós ficamos aqui escondidos. Lembraste, agora, Laura, quando a dona viu o mano branco, dizer em voz alta:

- "Está ali um lindo gatinho branco, isto na certa é um sinal". "O sinal de que eu andava há procura”. Mas, eu, entretanto, ao ouvir falar em sinal baralhei-me com o que o mano branco tinha dito e fui ao encontro dos humanos e tu vieste logo, também, atrás de mim. E a dona, corrigiu:

-“Há aqui gatinhos”. “E parou o carro”.

- Um, não! dois, três ... quatro com um gato preto que está lá ao fundo. São quatro lindos gatinhos. Um branco e três todos pretos. É aqui, mesmo, que a Chiquita vai ficar. Eu até se me enchem os olhos de lágrimas quando recordo este momento. Foi um grande susto. Na verdade nós ainda não nos tínhamos apercebido bem do perigo em que estávamos. Pois ao princípio aquilo tudo era novidade e até que era muito bonito e divertido, como disse o mano preto. Mas na verdade o mano branco tinha razão, ao dizer que nós não podíamos ter continuado ali, sozinhos. Tínhamos tido outra criação, não nos saberíamos desenvencilhar dos problemas que surgissem. Mais ainda, ele por ser branco. Bem que ele dizia estar a sentir-se mal. Ele não ia aguentar com aquele calor que estava. Eu sei, agora, porque estou sempre a ouvir a minha dona dizer à Micas que ela tem que ter muito cuidado com o sol. Segundo dizem os veterinários os gatinhos brancos não podem apanhar muito sol nas orelhas e nariz, pois pode provocar “cancro”. Diz a dona, já ter conhecido muitos gatinhos que tiveram que ser operados e alguns tiveram mesmo que ficar sem as suas orelhas por terem apanhado sol em demasia. São zonas muito sensíveis, para eles. Tal como acontece com as pessoas de pele branca que são mais sensíveis ao sol do que as de pele mais escura. Bem, pelo menos o mano branco não tinha olhos azuis porque senão, nesse caso, muito possivelmente seria surdo, pois são os senhores doutores veterinários de opinião que os gatos brancos desde que tenham um olho azul já têm grandes probabilidades - cerca de 80%, de serem surdos. E a prova disso é que todos se preocuparam logo com o estado de saúde dele. Funcionou o plano do mano branco. Lembraste, Laura, ficaram todos quase tão contentes ao nos verem como nós ao os vermos a eles. Parece que vinham, desde Cascais, à procura de um sítio especial e a dona nunca mais se decidia. Vinha a aguardar o tal sinal. Tendo subido até ao fim da estrada e voltado outra vez para baixo, conforme nós vimos. Foi só quando viu o mano branco que a dona se resolveu a parar. Ao princípio, para a minha, dona tudo isto tinha servido apenas como um sinal de que, aquele seria o local escolhido para deixar a sua querida cadela. Mas depois de terminado o funeral da Chiquita e de entretanto já nos terem dado bastante água e alguma comida - boa ideia a da minha dona de andar sempre prevenida para estas situações - ainda ficámos, ali, debaixo de um sol aterrador, um certo tempo, enquanto se questionavam sobre o que nos haviam de fazer? A nossa salvadora, foi ela, que logo saltou em defesa do mano branco dizendo que ele não poderia ficar ali. Ela levava-o, com ela. Mas e os outros? O dono dizia: - Levam-se todos. Mas, que ele, não podia ficar com nenhum. Para a minha dona levar um e não levar os outros era impensável. A dona não sabia o que fazer e muito menos o que pensar, ainda para mais depois de ter passado a última noite sem dormir. Na cabeça dela colocavam-se duas questões: - “A Chiquita morreu para que se salvassem estes gatinhos?”; “Ou, tudo tem uma sequência tão lógica que em muito nos ultrapassa, a nós comuns mortais?” Uma coisa foram todos unanimes em dizer: - “Estes gatos são especiais”! Lá nos meteram dentro de uma grande transportadora, lembras-te? E rumámos de Sintra para o Estoril. Lembraste de ao chegarmos, a casa, da nossa salvadora, nos terem servido logo um grande banquete e muita água fresca. Também a minha dona veio logo escovar-nos. Pois de termos andado no mato tínhamos os fatos um pouco sujos. Soube tão bem chegar àquela casa fresca. E só depois de termos dormido um pouco, seguidamente ao almoço, é que deixaram os outros gatos da casa virem conhecer-nos. Foi uma atitude simpática da parte deles!