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"PARA A LAURA - Histórias de uma Gata"





Cap. 9: Tentar dormir

Capitulo 9: Tentar dormir

A nossa dona e mais nós as seis. É de rir, outras vezes não. Todos os donos de gatos sabem daquela máxima importantíssima que todos os gatinhos aprenderam de suas mães logo nos primeiros tempos de vida. “Nunca dormir em outro sítio qualquer que seja se poder dormir na cama dos donos”. Ora cá em casa passa-se precisamente o mesmo. Todas temos as nossas respectivas camas e os sofás da dona ao nosso inteiro dispor para pequenas sonecas diárias. Mas quando chega a noite, horas por excelência para se dormir a sério, o que conta mesmo é a cama da dona. Ou melhor, quando e onde a dona dorme, torna-se o local ideal para também nós dormirmos. A Fôfa é só ver a dona subir as escadas que vai logo atrás dela. Conseguindo mesmo, deitar-se sempre, primeiro que ela. Depois, em coisa de meia hora já lá estamos todas. Normalmente, a dona resigna-se e não nos diz nada mas, por vezes, em que não está de tão bom humor refila a noite toda. Já chegou mesmo a atirar-nos em cara ter sido ela quem comprou a cama e daí ter direito a dormir à sua vontade e não com seis embrulhos peludos às costas. É que a Picoly, gosta de se deitar em cima da barriga dela, para já não falar da Fôfa, que como já te contei dorme enroscada na cabeça e a Nina em cima do pescoço quase que a sufocando. Nós as restantes somos bem mais discretas dormindo onde restar um espaço, normalmente, em fila do outro lado da cama ao lado da dona. Também, um facto curioso com que a dona se costuma deparar é o de acordar todas as manhãs sem almofada e ao levantar a cabeça à procura da dita cuja constatar que as queridas manas se encontram repimpadamente a dormir em cima da mesma. Complicado torna-se, quando à Sexta-feira, à noite, dia em que o dono chega e em que temos que dividir a cama com mais um. Não é justo, só ele, ocupa mais do que nós todas juntas. Aí sim, é um ai Jesus, Deus nos acuda! O dono diz ser impossível dormir naquela casa, a dona refila que ele ocupa a cama toda, a Fôfa aflita que não vê nada mas a ouvir tudo muito bem assopra a dar a sua opinião, a Cinzi, invocando o seu mau humor sai disparada cama fora a bufar por todos os lados ao mesmo tempo que a Micas aterrorizada sai rosnando de medo. Mas passado pouco tempo estamos lá todas outra vez. Por vezes, também, acontece não me apetecer dormir à noite. Não sei se contigo sucede o mesmo? Quando está muito calor, sabe melhor dormir de dia e brincar à noite, não achas? Nessas alturas costumo ir buscar os meus brinquedos e coloco-os, na cama, ao pé da dona para que ela veja que estou sem sono. Mas ao fim de algumas tentativas menos bem sucedidas acabo por me render ao evidente e resolvo brincar sozinha. Sabes como? Atirando com a tal bola colorida e irregular de que já atrás te falei pelas escadas a baixo. A bola salta divertida de um lado para o outro e eu distraio-me a correr atrás dela. Subindo novamente a correr com a bola na boca para ao chegar ao cimo das escadas deixá-la cair novamente. Acabando assim, por acordar, também as minhas companheiras e assim divertirmo-nos todas um pouco. Mas acho que a dona não aprecia muito estas nossas tertúlias nocturnas. Também, outra brincadeira que costumamos fazer e que anda a deixar a nossa dona quase doida é a seguinte: Tudo começou numa noite em que a Fôfa numa crise de ciúmes por a dona estar, há cerca de três horas, no computador sem lhe prestar a ela, a sua galinha dos ovos de ouro, a devida atenção começou em sinal de protesto, a retirar toda a roupa interior que se encontrava dentro de uma gaveta. A dona reparando em tal coisa ralhou-lhe e lá lhe deu um pouco de atenção o que a sossegou um pouco. Mas a ideia parecia boa ao ponto de vir a pegar moda. Hoje em dia, a Pico – quem haveria de dizer a doce e pacata Picoly, também ela, começou a fazer o mesmo, ao ponto de a dona já a ter levado ao médico pensando que ela estivesse doente pois não achava normal que a sua gatinha de exemplar comportamento fizesse tais disparates. Mas a senhora doutora não lhe encontro mal nenhum a não ser uns quantos quilos a mais. Perante isto, vários, são os dias, em que a dona encontra a sua roupa fora das gavetas (os roupeiros cá em casa também não têm portas) começando ela aos gritos ao que a Picoly logo se esconde. Só de há uns dias para cá é que a dona entendeu o verdadeiro significado desta maldade que a Picoly vinha cometendo constatando que na realidade não se tratava de nada mais, nada menos, do que uma pequena ajuda que a minha amiga queria prestar à nossa dona. Já vais entender: Apercebendo-se de que já estava atrasada para sair de casa reparou também, que ainda não se tinha vestido e levantando-se rapidamente do computador foi ao roupeiro para escolher algumas peças de roupa mas a pressa era tanta que deu por ela a pegar na que tinha mais à mão, ou seja, naquela que a Picoly lhe tinha separado. E assim se vestiu, olhou para o espelho, despediu-se de nós e lá foi trabalhar. Ficando nós todas a comentar:

- Bem podias ter escolhido outras cores ó Picoly – disse a Micas.

- Eu até que acho bem discreto – respondeu a Picoly.

- Por mim a dona tinha ido toda de preto. É uma cor elegante e a nossa dona até que gosta – respondi eu.

- Eu sei que ela gosta muito de roupa preta, mas desde que fez aquele curso místico, há uns anos atrás, quase que deixou de usar essa cor – retorquiu a Picoly.

- Eu também gosto muito mais de cores alegres – disse a Fôfa. E com a idade que ela tem o preto já lhe carrega muito.

Bom, para uma primeira escolha posso mesmo afiançar-te que a dona não estava nada mal. Um fato castanho com uma blusa bege muito clara, que a dona adornou com uns sapatos castanhos escuros e um par de luvas da mesma cor. Bem, está-se mesmo a ver que foi ao gosto da Picoly! Tipo gata siamesa se é que me entendes!?...

Sabes que o nosso comportamento pode estar directamente ligado ao dos nossos donos, tornando-nos mais agitados e mal comportados se eles estiverem ansiosos e estressados? Por isso mesmo a dona é de opinião que os possuidores de gatos deveriam prestar muita atenção ao comportamento dos seus animais revendo-se assim neles próprios. Os animais funcionam quase como esponjas absorvendo as emoções dos donos e acabando muitas das vezes por serem eles próprios as vítimas de tais atitudes. A dona diz constatar isso mesmo com o comportamento dos seus clientes. Diz ela que: -“Há casas em que os animais vivem completamente à solta com acesso a todas as divisões da casa demonstrando alegria, felicidade e um comportamento digno de reparo não estragando nada aos donos. Em contrapartida muitos são os donos que se queixam de não poder deixar os seus animais soltos porque só fazem disparates. Segundo a dona isto poderá ter duas causas (para além claro está da raça do animal, criação e alguns outros motivos que poderão provocar essas atitudes que com carinho e persistência por parte dos donos poderão ser limadas): Primeiro o facto de qualquer animal ao encontrar-se limitado a um espaço reduzido tornar-se muito mais nervoso e mal-humorado do que se tiver liberdade. Segundo reflectindo realmente um pouco o comportamento dos donos. Donos ansiosos e medrosos possuem gatos nervosos e medricas.

Bem, segundo as novas teorias a Picoly poderia estar a sofrer de  uma coisa a que se chama SASA, ou seja, Sindrome de Ansiedade de Separação em Animais. Mas deixemos isso por agora.

Laura querida, e longa vai já esta carta e quase que me esquecia de te contar sobre os meus presentes de aniversário. Já recebi quase todos, pelo menos é o que a dona diz. Esperemos que se engane.

Mas como te dizia tive uma casota só para mim que faz de casa de brincar, alcofa para dormir e sofá. É muito gira pois quando está a fazer de casa tem duas aberturas que permite que tu entres por um lado, e sais pelo outro, logo de seguida. Claro está que já me fartei de brincar nela e o mais curioso é que quando começo a ficar cansada - sabes que nós os gatos somos mestres em súbitas brincadeiras, mas também nos cansamos muito rapidamente – e nessas alturas, parece que a casota advinha e transforma-se em cama ou conforme o piparote que lhe dermos em sofá. Passo muitas tardes lá deitada a pensar na vida. Também tive um afiador para as unhas e um brinquedo novo muito engraçado que tem duas aberturas, onde andam duas bolas de um lado para o outro e tu por mais que te esforces nunca as consegues tirar dali para fora com a vantagem de que é revestido a corda o que é óptimo para ir arranjando as unhas enquanto brinco. Gostei imenso dos meus brinquedos. Laura querida, já começam a doer-me as minhas patinhas de tanto escrever, acho mesmo que já devo ter um calo numa das almofadinhas. Não estou habituada, sabes? E depois da queda que sofri estão ainda um pouco sensíveis. Por vezes até já seguro a caneta com a boca, outras vezes seguro-lhe com ambas as patinhas, é conforme me dá mais jeito. A dona por vezes fica a observar-me e costuma dizer, nessas ocasiões, que eu sou a sua “Musa inspiradora”: A ti, também te chamam isso? Musa inspiradora! Não sei o que seja, mas sou-a-me bem. Ela, acha-me muita graça, quando aflita, porque não gosto do que acabei de escrever começo a andar às voltas e rasgo todas as folhas com as minhas quatro patas. Por vezes, também, até chego a deitar-me ao comprido em cima do computador para melhor conseguir sintetizar o que te quero contar. Também, muitas vezes a nossa dona nos olha nos olhos. Ela adora fazer isso. Diz que não há nada de tão maravilhoso e relaxante como poder viajar nos olhos de um gato. Muitas vezes a ouço dizer que: - A paz e tranquilidade que os olhos dos gatos transmitem evitariam muito stress e angústia a muitos humanos que por ai andam a gastar o seu dinheiro, e saúde em pílulas para a depressão. Esta provado, que a convivência com os animais ajuda, e em muito, desde novos a idosos em vários aspectos da personalidade e saúde dos seres humanos. Tanto no que respeita a responsabilizar e desenvolver as crianças como companhia, motivo e esperança de vida de muitos adultos já em idade avançada. Especialmente no nosso caso que somos portadores de bens incalculáveis. A simples presença de um gato traz efeitos benéficos a nível da tensão arterial e do colesterol. Também a níveis psicológicos parece reduzir o stress. Só o facto de acariciar um gato parece acalmar os humanos. Sabias, disto, Laura? Deviam-nos tratar como verdadeiros talismãs para poderem usufruir de tantos privilégios. Como costuma dizer a dona, se todos os humanos tivessem um gatinho não existiam gatos errantes a definharem cheios de fome e existiam humanos bem mais felizes. Agora que já te contei como é a minha vida e tudo o que tenho aprendido aqui em casa mais uma vez aproveito para te desejar um Feliz Aniversário mana e se quiseres, já sabes, aparece na minha festa de anos e traz as tuas companheiras. Espero que os manos, também, possam vir. A dona disse que eu podia convidar quem eu quisesse pena que a casa seja tão pequena porque senão convidava alguns gatos aqui do Bairro mas não pode ser. Não faz mal fazemos uma reunião mais chegada em família. Vai haver diversos acepipes em croquetes e em pasta e uma coisa de que eu gosto particularmente, levedura de cerveja. Bom Laura querida por agora despeço-me com grandes saudades tuas. E se por algum momento te sentires só e triste, não o fiques! Olha bem no fundo do teu pequenino coração que lá me encontrarás, pois embora estejamos separadas, o amor que um dia nos uniu continuará para sempre a existir dentro de nós. Há, e mais uma coisa lembra-te sempre que: nós pertencemos a uma geração de gatos especiais!... Parece que os animais deste ano (do Macaco) são deveras peculiares.

Com muitas lambidelas e rons rons da tua irmã que te adora

Ameixa

Junto: Envio-te fotos minhas e das minhas companheiras.

Agradecimentos:

À Drª. Cláudia Correia, da “Alcabideche Vet”, pela sua colaboração e disponibilidade na revisão deste livro, assim como à forma profissional e dedicada com que sempre tratou alguns dos intervenientes desta obra. A si e a toda a equipe um caloroso agradecimento. Bem como a todos os médicos veterinários que ao serviço da sua profissão ajudam a melhorar as condições de vida destes nossos amigos. E a todos aqueles, conhecidos e desconhecidos, que de alguma forma ajudaram a encontrar a nossa querida Ameixa, aquando da sua queda, muito em especial à sua salvadora, neste livro, intitulada, de Salvadora n.º 2.

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A vida é como uma estrada cheia de montanhas e vales, pessoalmente, aprecio-a muito mais quando me encontro a passar pelas suas belas planícies tão do meu agrado. No entanto, convém prestarmos sempre muita atenção ao nossos sonhos que nos guiam e são o que de melhor a vida nos dá dos quais nunca devemos abdicar. pa