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"PARA A LAURA - Histórias de uma Gata"





Cap.5: A Picoly

Capitulo 5: A Picoly


1999, Outubro, dia 5, ano chinês do Gato. Estão a ver uma máscara africana, um café com leite mal mexido, ou um Cappuccino, também lembra um Tiramisu ou um biscoito. Natas, chocolate e caramelo que bela conjugação de cores. Também podemos trocar as natas por baunilha. Assim é a Picoly: Doce, tranquila, amiga e bem comportada. Digamos que de todas é a que menos arrelias dá à nossa dona. É a mais serena. Há, é verdade, juntem a tudo isto uns olhos que fazem lembrar duas lindas piscinas azuis da cor do céu. Daqueles dias de paz e tranquilidade É que na certa a Picoly resulta do cruzamento de uma linda tartaruga com um belo siamês. Seja lá como tiver sido a Picoly é uma gracinha, pequenina e rechonchuda, com umas patitas e cauda muito curtas. Bem, verdade seja dita, um pouco redonda demais para o estalão. Encontrava-se a dona, à beira mar, no paredão do Estoril, a fazer um belo passeio, quando alguém lhe liga a pedir ajuda informando-a que estava uma gatinha à porta de uma loja, muito aflita e em estado de choque. Lá ficou o passeio no paredão para melhores alturas. A nossa dona dirigiu-se então, para o local em questão e ao chegar, deparou-se com a Picoly aninhada, no chão, ao pé da entrada, toda urinada e com sangue. Para a dona, - pensou ela na altura, isto deveria ter sido provocado por alguma pancada forte. Não havia sinais exteriores de ferimentos. Perante as pessoas que ali se tinham junto e visto ninguém se oferecer para a socorrer a dona pegou nela ao colo e como não tivesse nenhuma transportadora com ela deitou-a, a seu lado, no banco do carro. Seguiram para Cascais, para o veterinário. Coisa inédita, a gata não se mexeu durante toda a viagem. Ao ser observada a nossa Picoly não apresentava nenhum sinal preocupante a não ser verificar-se que coxeava da patinha, traseira, direita. No entanto, e visto não se saber ao certo o que tinha acontecido foi-lhe logo administrado todo o tratamento que os veterinários acharam por conveniente. O senhor doutor, veterinário, dissera na altura, em que a examinara, que ela não devia ter nada partido, por isso numa questão de dias estaria a andar normalmente. Nessa época a minha dona estava ligada a várias associações de defesa de animais, onde inclusive fazia voluntariado e através das quais logo pediu ajuda para além, de anúncios que também colocou, para arranjar dono para mais esta gatinha. Várias pessoas responderam a esses anúncios, parecendo até bastante interessadas. Mas, como a Picoly teimava em continuar a coxear a dona ia protelando, dizendo que só a daria quando estivesse completamente bem de saúde. Além disso, com o passar do tempo a dona foi-se apercebendo tratar-se de uma gatinha muito sensível, talvez mesmo, do signo do Caranguejo e muito traumatizada com o acidente. Seria por isso necessário ter muito cuidado com o tipo de pessoa que a iria adoptar. Para complicar a situação, ainda mais, estava-mos a chegar ao Natal. Época, por excelência, em que muitos humanos resolvem adquirir um gatinho para presentear outro humano que depois de recebido o presente, muitas das vezes, o abandonam como, se de um simples objecto se tratasse. Ora sabendo disto a nossa dona não estava na disposição de dar a gatinha a qualquer um. Ainda por cima – pensava ela – se calhar só a queriam pelos seus belos olhos azuis, e depois, se ela nunca deixa-se de coxear? Quando se apercebessem disso o quê que lhe fariam? Quanto mais estes pensamentos afligiam a nossa dona, mais pessoas interessadas na Picoly apareciam e menos vontade ela parecia ter em deixar de coxear apesar do tratamento que continuava a fazer. A dona diz lembrar-se perfeitamente de quando ela queria subir para cima de um sofá, já com as patinhas da frente em cima do assento, manter a patinha traseira do lado direito, um pouco flectida. Então, a dona, quando voltou à consulta pediu ao senhor doutor, para voltar a examiná-la, porque ela, a nossa dona, não podia continuar a correr para ali, e nunca mais ver melhoras na perna da gata. Ao que o doutor pediu à nossa dona para colocar a Picoly, no chão, para assim ele poder observa-la melhor. A nossa dona assim o fez: Colocou a Picolynha no chão. O senhor doutor observou. Pensou. E respondeu-lhe. - Ela não tem nada! -Não!? Exclamou a dona espantada. - Não! – Respondeu o senhor doutor. - Isso é tudo manha!... Manha! A nossa dona ficou perplexa e voltou para casa com a sua gatinha. Continuaram os telefonemas, e ela a coxear. Até que um dia, decididamente, a dona, do meio da sala onde estavam presentes todos os gatos da casa, disse em voz alta para que todos testemunhassem: - Eu, Paula Alexandra, não dou mais esta gatinha a ninguém que seja! Esta gatinha está cá em casa, é pois mais uma gata da casa. – e dito, isto, foi-se embora. No dia seguinte, no meio dos seus afazeres a dona apercebeu-se que a Picoly andava, toda contente, a correr de um lado para o outro com as suas quatro patas, todas elas, bem assentes no chão como se nunca nada de mal lhe tivesse acontecido. Ainda hoje a Picoly é a mais frágil de todas. Não é medrosa, mas é a mais sensível. É a minha melhor amiga e confidente.